O que está na raiz dos problemas psicológicos e dependências
Saúde e Bem-Estar 22/09/2016

O que está na raiz dos problemas psicológicos e dependências

Miguel Lucas Publicado por Miguel Lucas

O que está por trás da depressão, ansiedade, fobia social, dependências e outras formas de problemas psicológicos. Por razões de ordem emocional, algumas pessoas não conseguem sair e procurar um emprego, ou quando conseguem arranjar não o conseguem manter. A grande maioria dessas pessoas apresentam alguns comportamentos típicos, não podem suportar a crítica, têm extrema dificuldade em conviver com os outros, ou sem saberem bem porquê, simplesmente não conseguem trabalhar.

Por vezes até conseguem ter períodos bastante funcionais, com muita energia, mas não conseguem gerir os seus relacionamentos, permanecendo solteiros e sem amigos. Alguns caem nas malhas do excesso de comida, jogo, bebida, compram coisas que não podem pagar. Mais tarde, acabam por ganhar consciência dos seus problemas, fazem tentativas para melhorar, resolver e/ou eliminar os vícios, mas não conseguem.

Alguns têm doenças físicas crónicas que iludem o diagnóstico derrotando os planos de melhoria sempre que a pessoa tenta novas abordagens. Alguns, compulsivamente colocam outras necessidades em primeiro lugar. Perdem a noção da hierarquia das suas prioridades. Sentem-se incapacitados, num buraco sem fundo, mas têm a noção que devem continuar em frente. Esquecem-se de ir às consultas, deixam de aderir aos programas de tratamento, aceitam os seus desleixes, comem mal e dormem mal ou muito pouco.

Enredo desesperante

Perante um conjunto de incapacidades de ordem emocional e  consequentemente de ordem funcional a pessoa deixa de conseguir adequar-se eficazmente às exigências da sua vida, ficando pouco a pouco cronicamente deprimida, ansiosa, ou ambas, ou talvez com diagnóstico de Desordem por Défice de Atenção com Hiperactividade (DDAH), mas mesmo com medicação, não muda muita coisa.

Se os medicamentos ajudam, eles têm efeitos secundários graves. Provavelmente algumas pessoas são diagnosticadas com transtorno de personalidade. São esquivas, narcisistas, ficam no estado-limite (borderline), dependentes, obsessivo-compulsivas, um conjunto interminável de patologias, que se cruzam umas com as outras (comorbidade). Numa altura (na atualidade) em que se julga que tudo é genético e se resolve com medicação, fica-se à mercê de uma pílula mágica, ou a pessoa rende-se à evidência que é assim devido a factores que a ultrapassam, passando a encarar o seu problema de forma passiva e adotando por vezes uma mentalidade de vítima.

O ciclo de negatividade vai crescendo, a pessoa nesta condição vai-se desprezando a si mesmo, caminhando ainda mais para sua auto-derrota e subvalorização. Torna-se muito pior com a idade, dado que devido à comparação com os outros, a pessoa sente-se a ficar para trás, não realizada e cheia de problemas sem fim à vista.

A pessoa vai sendo confrontada no seu dia a dia com situações de constrangimento:

Exemplo1: O que você diz quando alguém lhe pergunta: “O que é que você faz?” Você não pode responder com “Oh, tento levantar-me de manhã com muito esforço.” Se lhe perguntarem se você está num relacionamento, você não diz: “Não, quarenta anos e ainda não me decidi.”

Exemplo 2: Quando os familiares ou alguns amigos mais chegados tentam incentivá-lo ou orientá-lo. “Porque não tentar …” “Mas porque você não experimenta só …” “Você tem de fazer mais um esforço.” “Não há nenhuma desculpa para alguém com a sua idade não …” Finalmente a pergunta derradeira: “Eu não sei o que está acontecendo com você.”

Mas porque é que cresce essa espiral negativa?

Infelizmente, Familiares amigos e mesmo alguns profissionais de saúde (terapeutas, psicólogos, médicos, psiquiatras) dizem essas coisas também, mesmo depois de ser óbvio que o paciente não consegue agir.

Será isto uma doença? As pessoas já nascerão com elas? Serão as consequências da vida? O grau de exigência a que nos propomos? Será ausência de habilidades sociais? Viver uma infância em famílias disfuncionais? Vulnerabilidade genética?

Será um problema de diagnóstico? Será falta de conhecimento dos profissionais? Será falta de recursos de tratamento?

Certamente, para cada história, para cada problema ou situação incapacitante, algumas destas causas isoladamente ou em associação estarão na raiz dos problemas psicológicos e dependências. É na verdade preciso muito mais do que provavelmente uma causa isolada. Mas, abordar um questão tão vasta quanto os problemas psicológicos e dependências é sempre uma tarefa de hércules.

Não consigo, nem é meu objetivo arranjar a solução, isso não existe enquanto algo que sirva para todos e muito menos que exista num formato já pronto (tipo: aplique isto, ou faça desta forma durante “X” tempo e resolve o seu problema). Não acredito que isso seja possível, pelo simples facto que cada caso é um caso, e que é necessário sempre um enquadramento e reunir um conjunto de variáveis que permitam fertilizar o terreno para que um tratamento tenha condições favoráveis de ser bem sucedido.

Por muito dura que seja a realidade, por muita intenção que eu possa ter de ajudar os leitores que se encontram em situações semelhantes, a melhor mensagem que posso deixar é:

  • Sim é possível recuperar, sim é possível melhorar. É possível superar a grande maioria das condições de vida incapacitantes, com esforço, dedicação, persistência, motivação, força de vontade, acompanhamento, um plano de tratamento adequado à pessoa, sério, bem enquadrado e com tempo para que possa surtir o real efeito e eficácia.

Existem realmente algumas pessoas que por condições da vida (história da pessoa) encontram-se numa situação de tratamento e/ou recuperação “reservada” (utilizando um termo médico para quando não se sabe o prognóstico). Sendo que esse estado em que a pessoa se encontra (prognóstico reservado), assim como o seu diagnóstico, permanece sem alteração durante demasiado tempo (por vezes durante décadas).

Os problemas psicológicos e algumas dependências, são ervas daninhas que crescem sem se notar. Na verdade, elas manifestam-se na alteração dos comportamentos, atitudes, disfuncionalidade, alteração de humor, sintomas físicos, etc. Mas, acresce a isto um problema fantasma, é que a “ferida” não se vê, é quase impercetível que “coisas” estão a funcionar incorretamente.

Este grau de dificuldade está associado à incapacidade de ver os “erros” de pensamento (raciocínio) que fazemos, e nos conduzem aos problema psicológicos. Existem todo um conjunto de processamento de informação efectuado por todos nós, que muitas das vezes conduz-nos a todo um manancial de subterfúgios, associações desadequadas, ruminações, preocupações, evitamentos, lamurias, punições, que levam ao enraizamento de um padrão mental favorável ao crescimento de problemas psicológicos.

Perante esta imensidão de estratégias de pensamento desadequadas, que aumentam a susceptibilidade para os problemas psicológicos e dependências, é necessário um elevado conhecimento das técnicas de resolução dos erros de processamento da informação a implementar numa possível terapia.

Felizmente, já existem modelos que permitem entender  as razões porque perante determinados acontecimentos de vida alguns de nós desenvolvemos problemas psicológicos. Aponta-se para um problema comum que está relacionado com a forma como cada um de nós trata a informação. Esta informação sofre ainda influência das nossas crenças, auto-confiança nas capacidade cognitivas e as estratégias utilizadas para resolução do problema.

Vulnerabilidade psicológica

Na atualidade fala-se no desenvolvimento de uma possível vulnerabilidade para problemas emocionais e psicológicos que está relacionado com o modelo psicológico de processamento da informação (Teoria Metacognitiva desenvolvida por  Adrian wells). Ou seja, perante determinados acontecimentos de vida mais problemáticos, traumáticos, catastróficos ou difíceis, a forma como controlamos o conteúdo da informação que usamos nos nossos pensamentos, joga um tremendo impacto no desenvolvimento ou não de problemas psicológicos.

Este conhecimento é como um Oásis, é reconfortante, refrescante e esperançador. O conhecimento que existe sobre as estratégias mentais que cada um de nós utiliza no controlo do pensamento, permite percebermos porque razão se instalam determinados transtornos psicológicos e consequentemente elaborar uma abordagem de tratamento e recuperação com um elevado grau de eficácia.

Eu apelido essas estratégias de controle do pensamento (as que se comprovaram como úteis, protetoras e promotoras de saúde psicológica) de Estratégias Mentais de Êxito, que nos fazem desenvolver um Padrão Mental de Êxito.

Medidas de vulnerabilidade

Wells e Davies em 1994 desenvolveram o Thought Control Questionnaire (Questionário de controlo do pensamento) para avaliar diferenças individuais de controlo do pensamento, bem como a relação entre estas e a vulnerabilidade emocional.

Resumidamente, a escala compreende cinco subescalas que medem as estratégias de controlo do pensamento:

  • Distração. Por exemplo: “Faço alguma coisa de que gosto”.
  • Controlo social. Por exemplo: “Pergunto aos meus amigos se têm pensamentos semelhantes”.
  • Preocupação. Por exemplo: “Centro-me nos diferentes pensamentos negativos”.
  • Punição. Por exemplo: “Puno-me por ter esse pensamento”.
  • Reavaliação. Por exemplo: “Tento reinterpretar o pensamento”.

Através do estudo efectuado pelos autores acima citados, concluiu-se que a tendência para utilizar a preocupação e a punição como estratégias de controlo está positivamente associada a medidas de preocupação patológica (excessiva), neuroticismo e introversão. As outras subescalas: distração, controlo social e reavaliação do Thought Control Questionnaire apresentam correlações negativas e não significativas com as medidas de vulnerabilidade ao stress no estudo de Wells e Davies.

Conclusão: O uso da preocupação e punição para controlar pensamentos indesejáveis está associado à tendência para problemas emocionais.

Por outro lado é possível que as outras subescalas (isto é, controlo social, reavaliação e distração) possam constituir marcadores positivos de saúde mental que, em determinadas circunstâncias exerçam uma proteção contra a vulnerabilidade emocional.

Deste extraordinário estudo e de outros semelhantes surgiram dados que permitem saber que indicadores nos predispõem aos transtornos psicológicos. Por outras palavras, quer dizer que determinadas estratégias de coping (lidar com as situações problemáticas), nomeadamente a preocupação e a punição, parecem estar aumentadas nalgumas perturbações clínicas associadas a determinadas medidas de psicopatologia.

Informação relevante: Há provas preliminares de que a recuperação da depressão ou da perturbação de stress pós-traumático está associada a maior uso de estratégias de distração e de reavaliação (reestruturação do pensamento), e a um decréscimo no uso da preocupação e punição.

Para aprofundar este assunto, pondere ler os artigos:

Qual o antídoto para a vulnerabilidade psicológica?

Digamos, que de acordo com a Teoria da Aceitação e Compromisso (ACT) o antídoto para a vulnerabilidade psicológica é a flexibilidade psicológica. O Objetivo da aplicação de um programa de terapia de acordo com a abordagem da ACT é desenvolver mais flexibilidade psicológica no padrão de pensamento da pessoa. Desenvolve-se a habilidade de mudar ou persistir nos comportamentos funcionais quando estes permitem uma melhor adequação e adaptação às situações de vida.

O modelo de desenvolvimento da flexibilidade psicológica (hexaflex), gira em torno de seis processos chave:

  • Contacto com o momento presente
  • Desapego / Desfusão
  • Aceitação
  • O “Eu” como contexto
  • Valores
  • Compromisso com a ação

Contacto com o momento presente. Isto significa estar psicologicamente presente, estar conscientemente ligado com os acontecimentos que surgem no momento presente. Normalmente passamos demasiado tempo absorvidos nos nossos pensamentos sobre o passado e o futuro. Ou, ao invés de estarmos totalmente cientes da nossa experiência, operamos em piloto automático, deixamo-nos meramente “ir na corrente”.

Para aprofundar este assunto, pondere ler o artigo: Viva no presente. Não se paralise pelo passado.

Desapego / Desfusão. Significa simplesmente aprender a retirarmo-nos, a separarmo-nos ou desligarmo-nos dos nossos pensamentos, imagens e memórias. O termo correto é Desfusão Cognitiva. Ao invés de sermos apanhados pelos nossos pensamentos ou sermos forçados por eles, deixamo-los aparecer e desaparecer tal como se fossem automóveis a passar à nossa porta de casa. Afastamo-nos e olhamos para os nossos pensamentos ao invés de emaranharmo-nos neles. Devemos olhar para os nossos pensamentos tal qual aquilo que eles são: nada mais, nada menos que palavras na nossa mente.

Aceitação. Significa ter abertura e dar espaço para os sentimentos dolorosos, sensações e emoções. Deixamos de debatermo-nos com a nossa experiência interna e aceitamo-la tal qual ela é. Ao invés de querermos combater, inibir, resistir ou fugir-lhe, abrimo-nos à experiência e sentimos o que se passa dentro de nós. Isto não significa querer sentir ou gostar de ter sentimentos, sensações ou emoções negativas, nem tão pouco gostar delas. Significa simplesmente dar-lhes espaço para se manifestarem em nós.

O “Eu” como contexto. Isto remete-nos para as duas partes constituinte do Eu. O Eu pensante e o Eu observador. Nós somos aquele que tem a possibilidade de observar e analisar os seus próprios pensamentos, emoções, crenças, memórias, julgamentos, fantasias, planos, etc. Temos a possibilidade de observar aquilo que sentimos e pensamos num determinado momento e num determinado contexto. E ao observarmos se não estiver de acordo com aquilo que desejamos, ou o conteúdo dos nossos pensamentos e sentimentos não nos servir, temos a possibilidade de decidir o que fazer ou gerar outros pensamentos e sentimentos mais adequados ao contexto.

Valores. Referem-se aos aspetos da vida que valorizamos, mais propriamente às escolhas de vida direccionadas e intencionais que fazemos.

Compromisso com a ação. Significa tomar ações efetivas e guiadas pelos nossos valores. É importante saber os nossos valores, mas é apenas através da contínua ação congruente com os valores que a vida se torna rica, preenchida e significativa. As ações guiadas pelos valores promovem um vasto leque de pensamentos e sentimentos, ambos, agradáveis e desagradáveis, prazerosos e dolorosos. Então, o compromisso com a ação significa “fazer o que é preciso” para viver de acordo com os nossos valores, mesmo que isso nos traga dor e desconforto.

Para aprofundar este assunto, pondere ler o artigo: Crie um desafio que lhe dê esperança

CONCLUINDO

De acordo com o modelo apresentado é possível desenvolver uma intervenção terapêutica considerando o desenvolvimento da flexibilidade psicológica. Podem usar-se e implementar-se algumas técnicas e estratégias psicológicas, como estabelecimento de objetivos, exposição, ativação c0mportamental, treino de competências sociais, assim como qualquer competência que eleve e enriqueça a vida, desde a reestruturação cognitiva à gestão do tempo, da assertividade à resolução de problemas, do relaxamento às estratégias de enfrentamento (coping).

Todas estas estratégias psicológicas encaixam-se e podem servir para o desenvolvimento de um programa de tratamento para determinados transtornos psicológicos ou dependências de acordo com o modelo hexaflex: desde que levem em consideração a vida orientada para os valores e não ao serviço da experiência de evitamento.

De acordo com o Modelo Psicológico de Processamento de Informação e levando em consideração os seis fatores de desenvolvimento da flexibilidade psicológica, pode afirmar-se que:

Não é aquilo que as pessoas pensam que mais peso tem para a vulnerabilidade psicológica, mas sim como as pessoas pensam e reagem aos conteúdos dos seus pensamentos.

Paras as pessoas que sentem que a sua vida está a ser comprometida por algum transtorno psicológico ou formas de raciocínio incapacitante, para as pessoas que se sentem vítimas do passado, de acontecimentos traumáticos, para as pessoas que recorrentemente têm comportamentos autossabotadores, que sabem o que querem mas sentem-se incapazes de sair do buraco em que se encontram, este tipo de modelo psicológico de processamento de informação trás um nova e renovada esperança à eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental. Na minha prática em consultas de psicologia e consultas online, levo em consideração este modelo, comprovando a seu êxito e adequação no tratamento de um alargado leque de transtornos psicológicos.

Muitas pessoas sofrem desnecessariamente, a psicologia desenvolveu-se, existem programas e terapias que têm mostrado serem muito eficazes. Se acha que sofre com algum tipo de problema psicológico e apesar dos seus esforços continua sem conseguir melhorar, não hesite em procurar ajuda de um profissional. A melhoria e resolução dos seus problema é possível. Saiba como!

E VOCÊ, SOFRE DE ALGUM PROBLEMA PSICOLÓGICO OU DEPENDÊNCIA?

O que acha que está na sua raiz? O que está disposto a fazer para mudar essa condição? Partilhe a sua experiência, dúvida ou opinião! Em último recurso, poderá aderir às minhas consultas de psicologia online! Terei todo o prazer em ajudá-lo a superar o seu obstáculo.

Abraço,

Miguel Lucas

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